As minhas experiências

Eu gosto de fazer experiências com tudo ou quase tudo, entendendo este quase como abarcando todas aquelas experiências que nunca ninguém quer fazer e que normalmente se colocam geograficamente no campo do "íntimo". Aí, mesmo que se façam algumas experiências, e confesso ter feito algumas, nunca se fazem, de um lado todas as experiências e por segundo mesmo que se fizessem não se confessavam.

Estamos, aqui, no campo do íntimo (agora sem aspas) e nessa zona acinzentada aquilo que bole ou pode bulir com as nossas vergonhas mais inconfessadas mesmo a nós mesmos, aí, dizia eu - e digo - nunca se fazem todas as experiências mesmo que se tenham feito todas as experiências ou quase todas.

Mas, e deixando este campo algo embaraçante para todos nós, descendentes do macaco - símio (quem ainda não coçou os sovacos em frente a um espelho que atire a primeira pedra!), mas - tenho de repetir - devo dizer que as minhas experiências nem sempre são experiências naquele sentido em que elas devem ser entendidas: ou seja, uma experiência - deste género, não falo da experiência tipicamente chamada "de vida" que é de geração e acumulação espontânea - deve nascer, para ser experiência naquele sentido em que vou falar, como sendo objecto de um plano ou de uma ideia que leve a que a experiência se realize.

Ou seja, primeiro delineia-se o objectivo que se pretende atingir e depois desenham-se os meios para confirmar ou negar aquilo que se quer experienciar. É assim que deve ser, ou deveria ser, mas no meu caso, que nem sequer é especial - basta pensarem um bocadinho que verão alguma identificação convosco - as minhas experiências são normalmente obtidas à posteriori, ou seja, só são experiências quando eu digo a mim mesmo: "Ao menos ganhei (experiência) com a experiência!"

Assim, e tendo dito tudo isto sem ter dito quase nada, o que diferencia as minhas experiências daquelas outras que referi acima e que acontecem por geração espontânea e que se constituem na tal de "experiência de vida"!? Bem, em primeiro lugar, as minhas experiências e a experiência que nelas adquiro não resulta de factores absolutamente naturais e impensados, ou seja, não resulta de factores que me sejam exteriores.

Eu penso...e a experiência existe, mesmo que inicialmente eu nem sequer tenha dado pelo facto de ter estado a fazer uma experiência, um experimento, um ensaio, a basear uma teoria, por pequena que ela seja - a teoria.

É uma forma de ver factores positivos (e alguns negativos positivados) naquilo que me vai acontecendo no dia a dia. Não se trata de tudo aquilo que me acontece no dia a dia, senão teria excesso de experiências, excesso de informação e estaria totalmente baralhado. Nada disso...trata-se de experiências sob medida, quantitativa e qualitativa.

Eu escolho, dentro do mundo experiencial que me vai surgindo e dentro daquele que eu vou fomentando, meia dúzia de coisas ou de factos que devo considerar como tendo sido objecto de experiência ou como sendo a experiência eles mesmos. Faço pois uma selecção, como é natural a todo o ser humano e hierarquizo as coisas e dou-lhes o estatuto de experiência quando acho que elas merecem esse mesmo estatuto, não por uma mera questão de mérito (que secundarizo como critério selectivo), mas porque me é, ou penso que seja, útil, qualificá-la como tal.

Poderá sempre chamar-se a isto ter um comportamento de oportunidade, no que se refere à experiência ou às experiências por terem ausente o usual factor axiológico e por estarem despidas, nuas, neste processo que descrevo, de todo o factor ontológico, mas, em rigor esta questão é bastante discutível porque ambas as referências devem ser vistas na sua relatividade estética ou formal para ser mais claro.

Os critérios de escolha, para nomeação e "qualificação" da experiência como experiência, são pois subjectivos e este subjectivo tem toda aquela carga máxima que lhe possa ser dada. Não vou dissertar sobre o subjectivismo, sobre a importância de se fazer a destrinça entre o que é da natureza (mesmo humana) e o que é do homem no gozo de toda a sua plenitude "espiritual", mas interessa saber que dentro deste subjectivismo está contida a escolha, a opção, e não uma mera hierarquização mecânica obedecendo a qualquer protocolo previamente aceite.

Uma má experiência, daquelas que eu não gosto ou não venho a gostar depois de dissecada uma parte dela, não entra, não conta, não é experiência, para mim. Poderá, eventualmente vir a constituir-se como anti-experiência, ou seja, como aquela coisa que a gente diz que não se deve fazer ou repetir (o que é treta, porque acabamos sempre por cair na maior parte destas negações) mas tendo sempre subjacente (e nem de outra forma poderia ser) a ideia do recto (para mim), da experiência em si na parte oposta que é a positiva. Ou seja, e resumindo esta parte mais complicada, a anti-experiência só fica como experiência desde que sirva de suporte bastante à sua oposta, a verdadeira experiência.

Aqui cabe a observação de que, nestes casos, quando a anti-experiência tem de escorar a experiência, é sinal que ela, a experiência, não se basta a si mesma, e isso é, para além de ser chato, um sinal de fragilidade que assim se mantém até que novo momento aconteça e faça bastar-se a si mesma a experiência assim suportada ou que até mesmo a deite por terra.

Portanto, neste campo mas só neste campo, existe a experiência (pujante, potente, piramidal), a experiência com ajuda (normalmente dita em construção) e a anti-experiência cuja vida é efémera ou deveria ser mas que tem assinatura até que outro valor mais forte a dispense, o que pode levar muito tempo.

Feita esta alongada introdução que não esgota estes inesgotáveis temas eminentemente profundos até nunca se dizer basta (!) passo ao relato da prática que é afinal o que interessa mais para a mente comum se acomodar. Este texto, por si só, é uma experiência (desta vez previamente desenhada) e destina-se a avaliar até que ponto há quem aguente a parte de cima do texto.

As possibilidades são várias: ninguém aguenta, alguns aguentam, todos aguentam. Contudo, em qualquer dos casos, eu vou sair sempre a ganhar com esta experiência: no primeiro caso é porque sou inteligente em demasia; no segundo caso é porque, mesmo sendo inteligente em demasia consigo com que algumas pessoas me entendam e no terceiro caso, o mais elogioso para mim, neste momento, é porque o meu pensamento, mesmo hermético, é como um livro aberto.

Xau!!!



03/11/2008
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